Mauro Vieira discute com chanceler do Líbano eventual operação de repatriação de brasileiros no país
Em meio à crescente instabilidade no Líbano, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, realizou uma importante reunião com o chanceler libanês para discutir a possibilidade de uma operação de repatriação de cidadãos brasileiros no país. O encontro, que ocorreu nesta semana, reflete as preocupações do governo brasileiro com a segurança dos cerca de 40 mil brasileiros que vivem atualmente no Líbano, muitos dos quais possuem dupla cidadania.
Situação de crise no Líbano
O Líbano enfrenta uma crise política e econômica sem precedentes, agravada pela explosão devastadora no porto de Beirute em 2020 e pela pandemia de COVID-19. A crise se intensificou com o colapso do sistema bancário do país, a desvalorização drástica da moeda local e a escassez de combustíveis e alimentos. Com uma inflação galopante e manifestações constantes, a segurança dos cidadãos, tanto libaneses quanto estrangeiros, tem se tornado uma preocupação crescente.
O cenário político também se mostra frágil, com um governo interino incapaz de implementar reformas necessárias e um parlamento dividido. A comunidade internacional tem monitorado a situação, mas a recuperação do Líbano ainda parece distante. Nesse contexto, muitos brasileiros residentes no país têm expressado temor quanto à sua segurança e condições de vida, o que levou o governo brasileiro a iniciar negociações para uma eventual evacuação.
Discussão entre Mauro Vieira e o chanceler libanês
Durante a reunião, Mauro Vieira abordou a necessidade de preparar um plano de contingência para repatriar os brasileiros que desejam deixar o Líbano. O chanceler libanês, cujo nome não foi divulgado imediatamente à imprensa, expressou compreensão com relação à preocupação do governo brasileiro, destacando que as autoridades locais têm feito o possível para manter a segurança dos estrangeiros.
Vieira destacou que o Brasil está preparado para oferecer suporte consular imediato, caso a situação no Líbano piore ainda mais. “Temos uma obrigação de proteger nossos cidadãos onde quer que estejam”, afirmou o ministro. “Estamos monitorando de perto a situação e tomando todas as medidas necessárias para garantir que, caso seja preciso, possamos realizar uma operação de repatriação de maneira segura e eficaz.”
Além da questão da repatriação, os dois chanceleres discutiram temas bilaterais, incluindo as relações comerciais entre Brasil e Líbano, que vêm sofrendo com as sanções internacionais impostas ao país árabe. No entanto, o foco principal foi a proteção dos cidadãos brasileiros.
Comunidade brasileira no Líbano
A comunidade brasileira no Líbano é composta majoritariamente por descendentes de libaneses que emigraram para o Brasil em ondas migratórias ao longo do século XX. Muitos destes brasileiros mantêm laços familiares e comerciais no país, o que, até então, sustentava uma convivência pacífica. Contudo, com o agravamento da crise, um número crescente de brasileiros tem procurado o consulado em Beirute em busca de orientações.
O Itamaraty já havia emitido, em semanas anteriores, um alerta para que os brasileiros evitassem viagens desnecessárias ao Líbano. O governo também orientou os que residem no país a estarem atentos às atualizações de segurança e a manterem contato constante com o consulado.
Nos últimos meses, vários países europeus e americanos começaram a organizar a retirada de seus cidadãos, principalmente de regiões mais vulneráveis em Beirute e em cidades do interior. O Brasil, apesar de não ter anunciado oficialmente uma operação de evacuação, tem intensificado os preparativos internos para a eventualidade de uma ação coordenada.
Operações de repatriação anteriores
Esta não seria a primeira vez que o Brasil realiza uma operação de repatriação em massa de cidadãos no exterior. Em 2020, o governo brasileiro coordenou o retorno de milhares de brasileiros que estavam espalhados pelo mundo devido à pandemia de COVID-19, quando o fechamento abrupto de fronteiras e a suspensão de voos comerciais pegou muitos de surpresa.
Na ocasião, foram realizadas diversas ações coordenadas em parceria com companhias aéreas e outros governos, permitindo que cidadãos brasileiros retornassem de países como Peru, Marrocos e Itália. A experiência adquirida nessas operações anteriores tem sido fundamental para os preparativos de uma possível evacuação no Líbano.
Preocupações de segurança e próximos passos
Ainda não há uma decisão formal quanto à operação de repatriação dos brasileiros no Líbano, mas fontes próximas ao Itamaraty indicam que o governo está avaliando todas as opções disponíveis. Caso a situação se agrave, o Brasil poderá mobilizar aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para realizar a evacuação, assim como fez em outras crises no passado.
O ministro Mauro Vieira reforçou que o governo brasileiro continuará em contato com os cidadãos brasileiros no Líbano, oferecendo apoio e atualizações constantes. Ele também ressaltou a importância de que todos sigam as orientações do consulado, especialmente no que diz respeito à segurança e às movimentações dentro do país.
Com o aumento da tensão e a deterioração das condições de vida, o Itamaraty recomendou que os brasileiros que desejem retornar ao Brasil comecem a se preparar, organizando documentos e tomando as providências necessárias. A Embaixada do Brasil em Beirute está coordenando uma lista de cidadãos interessados em participar de uma eventual operação de repatriação.