Na mais recente edição da Grande Entrevista da RTP, transmitida na noite de ontem, Pedro Nuno Santos, secretário-geral do Partido Socialista (PS), abordou temas cruciais da atualidade política e social em Portugal. Entre os destaques estiveram os distúrbios ocorridos na Grande Lisboa após a morte de um homem na Cova da Moura, as negociações do PS em relação ao Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) e o controverso plano do Governo para a comunicação social, em particular a RTP. Durante a entrevista, o líder socialista também comentou a situação em torno do ministro Paulo Rangel, considerando-a “um caso sério”.
Distúrbios na Grande Lisboa e a morte de Odair Moniz
Pedro Nuno Santos foi confrontado com os recentes incidentes em várias zonas da Grande Lisboa, desencadeados pela morte de Odair Moniz, um homem perseguido pela polícia no bairro da Cova da Moura. O secretário-geral do PS foi categórico ao afirmar que “vivemos num Estado de Direito democrático sólido”, reforçando a necessidade de “um respeito absoluto pela lei”, tanto por parte dos cidadãos quanto das autoridades.
O líder socialista destacou que “não podemos esquecer que há um cidadão que morreu”, referindo-se a Odair Moniz, que deixou três filhos. Para Santos, a morte do homem deveria suscitar empatia em toda a sociedade, especialmente para com a família enlutada. Ao mesmo tempo, o secretário-geral sublinhou a necessidade de compreender também o contexto do jovem agente policial envolvido, “com apenas 20 anos de idade e um ano de experiência profissional”.
Pedro Nuno Santos reconheceu a existência de racismo e de violência policial em Portugal, mas alertou para o perigo de tirar conclusões precipitadas sobre o caso, afirmando que “exige cautela de todos nós”.
Críticas ao aproveitamento político dos distúrbios
O secretário-geral do PS não hesitou em criticar duramente o que classificou como o uso político-eleitoral dos incidentes por parte de alguns partidos. Sem mencionar diretamente o nome, Santos aludiu ao líder do partido Chega, André Ventura, acusando-o de explorar os acontecimentos para benefício eleitoral e de mostrar uma “total ausência de empatia”.
Pedro Nuno Santos também comentou o discurso recente do presidente do Partido Social Democrata (PSD), Luís Montenegro, que, durante o 42.º Congresso do partido, propôs a criação de equipas interdisciplinares para combater a criminalidade violenta. O líder socialista desvalorizou a proposta, afirmando que não apresentava “uma visão para o país, mas apenas uma lista de compras”.
Orçamento do Estado 2025: a decisão do PS
Um dos pontos centrais da entrevista foi a decisão do PS em relação ao Orçamento do Estado para 2025. Pedro Nuno Santos esclareceu que a abstenção do partido na votação global foi uma decisão “inevitável” e que não demorou mais tempo do que o necessário para ser tomada. O líder socialista lembrou que a decisão foi comunicada ao país uma semana após a entrega do orçamento e rejeitou qualquer sugestão de que o PS deveria ter definido o seu sentido de voto antes de conhecer o documento.
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“Nós decidimos negociar”, sublinhou Pedro Nuno Santos, frisando que a abstenção “não foi uma decisão fácil”. Segundo o secretário-geral, o PS optou por corrigir algumas medidas que considerava “profundamente erradas”, como o IRS Jovem, que beneficiava jovens com rendimentos mais elevados, e a política fiscal sobre o IRC.
Pedro Nuno Santos também refutou críticas internas, como as de Eurico Brilhante Dias, ex-líder parlamentar do PS, que classificou o ganho socialista na negociação do orçamento como “pífio”. O líder socialista defendeu que as alterações ao IRS Jovem, limitando os benefícios fiscais a jovens que ganham até dois mil euros mensais, foram uma vitória para o país e para a justiça social.
Plano do Governo para os media e a RTP
O plano do Governo para a comunicação social, que prevê a eliminação gradual da publicidade na RTP, foi outro tema central da entrevista. Pedro Nuno Santos criticou severamente a medida, que retirará cerca de 20 milhões de euros em receitas à estação pública, acusando o Executivo de desviar recursos públicos para o setor privado.
Para Santos, a RTP desempenha um papel fundamental na garantia da pluralidade de opinião em Portugal, sendo “a estação de televisão que melhor garante essa pluralidade”. O líder socialista advertiu que a redução das receitas poderá comprometer a qualidade do serviço público prestado pela RTP, com impacto direto na democracia.
Caso Paulo Rangel: “Um caso sério”
A entrevista também abordou a polémica envolvendo o ministro Paulo Rangel, que, alegadamente, terá proferido ofensas às Forças Armadas. Pedro Nuno Santos classificou o episódio como “um caso sério” e apelou à clarificação por parte do Governo. O líder socialista destacou a importância do respeito mútuo entre o poder político e o poder militar e defendeu que “o silêncio só alimenta um tabu que deve ser esclarecido o mais rápido possível”.
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Ao longo da entrevista, Pedro Nuno Santos procurou marcar a diferença entre o PS e outras forças políticas, posicionando o partido como um defensor da maioria da população, especialmente nas questões mais sensíveis como a segurança, justiça social e a comunicação social.